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Prospecção arqueológica não interventiva no Conjunto do Carmo, Município de Santos-SP

  • Foto do escritor: Sónia Cunha
    Sónia Cunha
  • 11 de mar.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 26 de out.

Palavras Chave:  Arqueologia Urbana, Prospecção Arqueológica Não Interventiva, Conjunto do Carmo, Santos - SP


Localização: Santos - SP, Brasil.

Tipologia: Prospecção Arqueológica Não Interventiva | Arqueologia Urbana.

Parceiro: Prefeitura de Santos.


O Conjunto do Carmo, em Santos (SP), é um dos mais importantes testemunhos da história urbana e religiosa da cidade. O complexo reúne a Igreja dos Freis Carmelitas, parte do Convento do Carmo, com origens no século XVI, e a Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo, erguida no século XVIII. Para ampliar o conhecimento sobre esse patrimônio e subsidiar sua conservação, realizamos uma prospecção arqueológica não interventiva na área.

O projeto, promovido pela Secretaria Municipal de Obras e Edificações da Prefeitura de Santos, está vinculado ao Processo nº 65062/2023-8 e à Dispensa Eletrônica nº 038/2024. Diferentemente das iniciativas voltadas ao licenciamento ambiental, a pesquisa segue normas específicas de proteção ao patrimônio arqueológico, em conformidade com a Lei nº 3.924/1961 e as Portarias Iphan nº 07/1988, nº 317/2019 e nº 196/2016.

O levantamento arqueológico não interventivo confirma a complexidade extraordinária do sítio e evidencia que sua relevância ultrapassa o monumento em si: trata-se de um território histórico em que materialidade e memória se entrelaçam. Com técnicas não destrutivas, em especial o GPR (Radar de Penetração no Solo), identificamos anomalias compatíveis com estruturas construtivas soterradas, canalizações e prováveis contextos funerários, indicando a preservação de níveis arqueológicos sob as camadas pavimentadas atuais. Em campo, essas leituras foram corroboradas por evidências visíveis: lápides datadas do século XIX, ossários embutidos em capelas laterais e uma “janela arqueológica” que expõe o aparelho construtivo original. Em conjunto, os dados demonstram que o convento e seu entorno imediato foram utilizados, em diferentes períodos, como espaços de sepultamento, em consonância com as práticas funerárias de ordens religiosas até o final do século XIX.

A análise documental e arquivística amplia essa leitura ao evidenciar o papel central do Carmo na organização fundiária e simbólica da antiga vila de Santos. Escrituras de doação, compra e litígios, localizadas no Fundo Ordem do Carmo do Arquivo Nacional, revelam uma paisagem marcada por disputas e redefinições espaciais, nas quais o convento se consolidou como núcleo de poder religioso e econômico. O cruzamento entre fontes escritas e evidências materiais delineia um verdadeiro palimpsesto urbano: cada reforma, substituição de piso ou reconstrução de parede inscreve novas camadas de significado sobre o espaço original, permitindo compreender processos de formação, destruição e reconstrução característicos das cidades históricas brasileiras.

Os testemunhos orais coletados pela equipe conferem espessura humana a esse quadro. Relatos de Frei Lino de Oliveira e de Marlene Mazzei reafirmam o papel devocional e educacional do conjunto; José Ricardo Prado destaca a relevância histórica da Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte como expressão da religiosidade negra e da solidariedade comunitária; e Ney Caldatto Barbosa oferece uma leitura crítica sobre a formação urbana de Santos e a centralidade simbólica do Carmo, evidenciando o entrelaçamento entre arquitetura, fé e urbanidade. Essa dimensão também orienta uma reflexão afrocentrada: ainda que, nas fontes consultadas, não se identifiquem vínculos institucionais diretos entre a Ordem do Carmo e irmandades negras, o sítio se inscreve numa geografia mais ampla de presenças afrodescendentes, cujas práticas, confrarias e experiências de resistência ajudam a explicar silenciamentos e ausências nos registros oficiais.

Do ponto de vista técnico e de gestão, os resultados confirmam o alto potencial arqueológico do Conjunto do Carmo e fundamentam recomendações objetivas: monitoramento sistemático de qualquer intervenção física; preservação in situ de contextos sensíveis, com protocolos específicos para eventuais achados funerários; integração da pesquisa arqueológica aos projetos de restauro e às rotinas de manutenção; e fortalecimento das ações de educação patrimonial, com sinalização interpretativa e produção de conteúdos digitais. Em síntese, a investigação conduzida pela HV Arqueologia reafirma que o patrimônio de Santos não se limita aos vestígios materiais: abrange memórias, narrativas e identidades que continuam a habitar o espaço. Ao transformar evidências em diretrizes de conservação e mediação pública qualificada, o trabalho no Carmo reinscreve o passado no presente e consolida bases para uma preservação responsável, participativa e sustentável.


Galeria


Fotografias: Sónia Cunha | HV Arqueologia, Conservação e Gestão (2023, 2024, 2025); José Marques Pereira | Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos (1900); Militão Augusto de Azevedo | Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos (1864); Militão Augusto de Azevedo | Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos (1900); Autoria desconhecida | Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos (1900); José Marques Pereira | Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos (1900).


O projeto "Prospecção arqueológica não interventiva no Conjunto do Carmo, Município de Santos-SP" nas mídias:







Referências on-line:



Bibliografia:





  • CUNHA, S., ESTEVES, L. Prospecção arqueológica não interventiva no Conjunto do Carmo, Município de Santos-SP. Projeto. Santos: HV Arqueologia, Conservação e Gestão, 2024.182.


  • PEREIRA, M. S. Em busca da cidadania: ex-escravos, negros, imigrantes e disputas por terra e trabalho no Jabaquara (Santos, 1880-1900). Revista África(s), v. 03, n. 06, p. 106-130, 2016:http://www.imigracaohistorica.info/uploads/1/3/0/0/130078887/em_busca_da_cidadania_pereira.pdf


  • SANTOS, C. Paisagem Urbana e Revitalização do Patrimônio na Área Central de Santos. Geografia, Ensino e Ambiente na Baixada Santista, p. 195, 2011.


  • SANTOS, F. F. T. Tecendo laços e ligando pontos: homens de cor, cultura política, racialização e a armadura (in)vulnerável de cidadão, Santos (1870-1898). 2021. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2021: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UNICAMP-30_58ca89fbcadd332d810ba4c42e7dc919


  • SANTOS, F. M. A História de Santos. 1532-1936. Vol. 1. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1937a.


  • SANTOS, F. M. A História de Santos. 1532-1936. Vol. 2. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1937b.


Processos Iphan:


  • Processo Iphan nº: 01506.000560/2008-00


  • Processo Iphan nº: 01506.000269/2009-12


  • Processo Iphan nº: 01506.000583/2010-21


  • Processo Iphan nº: 01458.000493/2015-67


  • Processo Iphan nº: 01506.000193/2025-37


Podcast:


  • Ep.04: Frei Lino e o Conjunto do Carmo de Santos: História, Fé e Patrimônio Cultural.


  • Ep.05: Marlene Mazzei: A devoção e a história da Irmandade Terceira do Carmo de Santos.


  • Ep.06: A Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte na voz de José Ricardo Soares Prado.


  • Ep.07: Ney Caldatto Barbosa e o Conjunto do Carmo de Santos: História, Arquitetura e Preservação.


Para mais detalhamento sobre os resultados




Para mais informações sobre o processo no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan




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